O Open Data Day 2022 está chegando – conheça os anteriores no Brasil

imagem: Arquivo Nacional

O Open Data Day, ou dia dos dados abertos, vai acontecer de novo em breve. Ele está agendado para o dia 5 de março de 2022. Será a décima terceira vez que o ODD acontece no Brasil. Assim, esta é uma boa oportunidade para conhecer mais sobre ele e como esses eventos têm acontecido no Brasil pelos últimos 9 anos.

P: Espere, você disse que é o décimo Open Data Day, mas eu li em algum lugar que é o décimo segundo.

A: Você tem razão. Estou considerando aqui somente aqueles que aconteceram no Brasil. Continue lendo para saber mais ou pule para a seção primeiros anos para maiores detalhes.

ATUALIZAÇÃO: Esta é na verdade a décima terceira vez que o ODD ocorre no Brasil. Mais sobre isso na seção primeiros anos.

O Open Data Day é um grupo de eventos no mundo todo, sendo cada um deles organizado localmente, para celebrar os dados abertos e colaborar em objetivos comuns, frequentemente com código de computador, usando dados abertos. Qualquer um pode preparar o seu evento local. Local normalmente significa uma cidade, mas frequentemente há mais de um evento na mesma cidade. Por exemplo, em 2020 houve dois eventos do Open Data Day na cidade do Rio de Janeiro.

O que me motivou a pesquisar e escrever sobre o passado do Open Data Day no Brasil foi um convite por parte do Arquivo Nacional para falar no seu evento do Open Data Day Rio de Janeiro 2020. Eu decidi falar lá sobre o próprio Open Data Day: o que é, por que é importante e como foram alguns dos eventos do ODD anteriores.

Augusto explica o que é o Open Data Day, no ODD Rio de Janeiro 2020. No slide está escrito: eventos locais, descentralizados; em uma mesma data (ou próxima); com a temática de dados abertos.

Augusto explica o que é o Open Data Day, no ODD Rio de Janeiro, no início de março de 2020.

Se tiver curiosidade, as gravações da palestra (na verdade do evento inteiro) está disponível no Youtube. Os slides estão no SlideShare. Eu também escrevi uma outra postagem neste blog rememorando o que aconteceu naquele evento.

A mudança dos eventos para o online

A pandemia do coronavírus desde março de 2020 mudou completamente a forma como esses eventos são realizados. Assim, para refletir sobre como eles são feitos, é necessário considerar em separado os períodos pré- e pós-Covid. A diferença mais notável é que, como tudo mais, quase todos os eventos costumavam ser presenciais. Hoje em dia, em quase todo lugar eles acontecem exclusivamente online.

Na esperança de que seja útil para as pessoas, seja lá quando os eventos presenciais voltem a se tornar seguros de se fazer novamente, decidimos manter as referências para os guias que contemplam como organizar ambos os tipos de evento – presencial ou online.

Para eventos presenciais, uma boa referência poderia ser o Guida para o Open Data Day 2020 que o programa Embaixadoras da Open Knowledge Brasil produziu, como resultado das discussões realizadas durante um webinar, do qual eu participei em janeiro de 2020. Uma gravação daquele webinar está disponível no YouTube.

A live do projeto Embaixadoras, em janeiro de 2020.

A live do projeto Embaixadoras, em janeiro de 2020.

Para ilustrar alguns dos desafios que envolvem a migração de um evento presencial para um evento online, podemos dar uma olhada nesta postagem (em inglês). Ela inclui algumas das lições aprendidas pela equipe de organização da csv,conf,v5, a qual inclui Lilly Winfree and Jo Barratt, durante esse processo.

No ano seguinte a Open Knowledge Foundation publicou um relatório detalhado sobre o Open Data Day 2021 para os patrocinadores de minibolsas. Ela também fez uma pesquisa para ouvir a comunidade sobre o que ela queria para o Open Data Day e publicou os resultados.

Em 2022, o guia em português está sendo atualizado pela Open Knowledge Brasil para 2022. A principal diferença é que ele agora inclui orientações para se organizarem eventos online, como tem sido o normal desde que a pandemia de Covid começou em 2020. No entanto, muitas das ideias e orientações permanecem as mesmas e podem ser usadas para se criarem eventos do Open Data Day tanto presenciais quanto online.

ATUALIZAÇÃO: agora também há uma postagem de blog da Juliana Trevine e da Ariane Alves no blog da Open Knowledge Brasil com as orientações atualizadas.

O que é o Open Data Day e como organizar um

O Open Data Day é um evento descentralizado, onde as pessoas em muitos lugares do mundo se unem para celebrar os dados abertos e fazer atividades relacionadas a dados abertos. Essas atividades podem variar muito. Elas podem ser, por exemplo:

  • explorar conjuntos de dados para conhecer as possibilidades de usá-los para solucionar problemas do mundo real;
  • palestras sobre qualquer assunto relacionado a dados abertos;
  • hackathons, desafios de dados, análise de dados ou desenvolvimento de software em projetos que usam dados abertos;
  • mesas redondas e sessões de perguntas e respostas entre utilizadores dos dados e publicadores dos dados, acadêmicos, praticantes, estudantes e profissionais, qualquer pessoa interessada em dados (muitas vezes dados dentro de um domínio em particular do conhecimento);

Por que é importante?

Por que isso importa? Bom, é uma oportunidade para juntar pessoas para discutir coisas relacionadas aos dados abertos. Acontece muito de cada pessoa trabalhar sozinha no seu projeto relacionado a dados abertos e não saber o que os outros estão fazendo ou como podem se beneficiar da cooperação. Não é todo dia que se tem uma massa crítica de pessoas interessadas em dados abertos que podem trabalhar juntas para resolver com dados problemas do mundo real. Também é uma ótima oportunidade para expandir a sua rede de contatos para mais pessoas que estão envolvidas no cenário de uso de dados, por isso muitas novas conexões costumam acontecer nesses eventos.

Entretanto, o Open Data Day não é somente para os especialistas no assunto, ou mesmo para pessoas com inclinações técnicas. Como é um evento inclusivo, pessoas que nunca tiveram contato anterior com dados abertos podem se sentir bem vindas de descobrir uma maneira de ajudar com algo de útil e significativo. E, é claro, aprender e praticar habilidades em um ambiente onde é fácil obter ajuda quando se precisa, já que pessoas mais experientes estarão muitas vezes ao alcance e dispostas a ajudar.

Por onde começar a organizar um evento

Já que cada evento é descentralizado, você não precisa pedir permissão para ninguém para poder planejar um novo evento na sua comunidade. Simplesmente pense em algumas coisas para fazer lá, preparando atividades relacionadas a um projeto ou dois que as pessoas podem querer se voluntariar. Pense em um problema comum na comunidade local que poderia ser abordado com o uso de dados. Ou em dados em um domínio do conhecimento que possa interessar uma comunidade de pessoas, mesmo que elas não estejam situadas na mesma localidade: explorar e/ou melhorar um conjunto de dados também é uma possibilidade.

Muitas vezes acontece de pessoas chegarem querendo colaborar, mas que não têm ideia do que fazer. Por isso, ter algumas sugestões prontas para possíveis atividades é algo bastante útil. Ter uma palestra preparada para introduzir os iniciantes a projetos em andamento nos quais você quer trabalhar também é algo importante.

Uma vez que você tem uma ideia do que fazer, primeiro olhe o mapa no opendataday.org e veja se já há um evento sendo organizado na sua área. Nesse caso, tente entrar em contato com essas pessoas e expor a sua ideia – ela pode acabar sendo incorporada à programação do evento. Você também pode iniciar o seu próprio evento, só não deixe de preencher o formulário, nesse caso, para que ele também apareça no mapa.

Você também pode olhar os temas sugeridos lá e tentar propor uma atividade relacionada e se candidatar a uma minibolsa. Elas são quase todos os anos oferecidas por patrocinadores do Open Data Day.

Nota: se o seu idioma nativo é outro que não o inglês, veja se o site do opendataday.org está disponível e atualizado na sua língua. Se não estiver veja o repositório no Github e ajude a traduzi-lo ou a atualizá-lo. Dessa maneira, haverá uma barreira a menos para iniciantes entenderem e virem ao evento pela primeira vez. Eu tenho feito isso para a língua portuguesa nos anos anteriores até 2021.

O local do evento ou ferramenta online

Não faça um evento presencial se as condições sanitárias locais não o permitirem. E, mesmo se for permitido, mesmo com máscaras faciais, distanciamento e todas as precauções, ainda assim é mais seguro para todo mundo fazê-lo online, enquanto a pandemia ainda perdurar.

Isto post, quando você estiver fazendo um evento presencial, procure uma instituição que lhe permita usar seu espaço para o evento. Frequentemente há escolas, edifícios públicos ou mesmo pequenos negócios que, quando informados sobre do que se trata o evento, permitem o uso do espaço gratuitamente. Especialmente porque o ODD normalmente ocorre em um sábado, dia em que algumas dessas instituições não estariam usando o espaço de qualquer forma.

No já mencionado webinar de janeiro de 2020, a Thays Lavor afirmou que, na experiência dela com os eventos “Cerveja com Dados”, foi algo bom realizar o evento em um espaço aberto, para que algumas pessoas que estivessem apenas passando pelo local ficassem curiosas e eventualmente se engajassem e participassem.

Também é muito importante certificar-se de que o lugar tem uma boa conexão wifi para que as pessoas participantes possam usar. Será frustrante para todos se elas não puderem baixar facilmente conjuntos de dados e ferramentas de análise. Não deixe esses preparativos para a última hora ou o seu evento pode nem acontecer.

Para fazer o evento online, tente escolher uma ferramenta que deixe as pessoas o tão confortáveis quanto possível, preferecialmente uma que não exija que os participantes instalem nada. Dê preferência a soluções em software livre hospedado, como o Jitsi Meet ou o Big Blue Button, já que elas frequentemente não exigem que os participantes concordem com termos de serviço que são ruins para a sua privacidade.

Há listas de instâncias desses serviços em vários lugares na internet, mas eu gosto de procurar no Chatons.org, uma lista mantida pela ONG francesa FramaSoft. Lá você poderá encontrar, por exemplo, listas de serviços que usam o Jitsi Meet ou o Big Blue Button. Alguns desses serviços são gratuitos, mas a sua infraestrutura tem custos. Por isso, se você usar, por favor faça uma doação se puder.

Se você tem alguma dúvida se essas ferramentas são capazes, saiba que a maior conferência de software livre da Europa, o FOSDEM 2022, aconteceu neste mês de fevereiro completamente online, com mais de 8.000 participantes. Que ferramenta eles usaram? Matrix, o protocolo aberto, descentralizado, ferramenta de comunicação completamente em software livre, que incorpora o Jitsi para chamadas de vídeo. Claro, houve alguns problemas técnicos, mas qual ferramenta proprietária não os tem em eventos tão grandes quanto esse? No fim das contas, eu diria que o evento foi um grande sucesso.

Ferramentas que permitem às pessoas terem avatares que se movem em um espaço 2D também são interessantes, uma vez que estimulam que as pessoas se encontrem em grupos menores espontâneos e tenham conversas rápidas (ou longas) e inusitadas no mesmo canto do mundo virtual. Alguns exemplos de ferramentas que permitem isso são o gather.town e o WorkAdventure. Ambos oferecem ferramentas para projetar e construir o seu próprio mundo virtual, sendo que o último destes é software livre (o código fonte e kit de início de mapeamento estão no Github). Muitos eventos online nos últimos dois anos têm usado este artifício para emular o sentimento de estar de fato em um lugar.

Em todo caso, não se esqueça de anunciar o evento em todos os grupos relevantes entrando em contato direto e usando as redes sociais. Também certifique-se de que ele esteja no mapa do opendataday.org.

Encontrar e preparar os dados

Certifique-se de apresentar os conjuntos de dados (datasets) que podem ser úteis para as atividades planejadas e de compartilhar com todos os links para esses datasets. Procure por datasets nas fontes oficiais, portais de dados locais e nacionais, sites de governo e portais da transparência, órgãos nacionais de estatísticas, organizações internacionais (ex.: Banco Mundial, ONU, OCDE), e catálogos corporativos de dados (e.x.: data.world, Open Corporates). Algumas vezes também há catálogos de dados úteis curados pela comunidade (ex.: o Data Hub, DBPedia ou WikiData), então não se esqueça de olhar esses também. Caso precise de dados geoespaciais, não deixe de ver o OpenStreetMap, GeoNames, e os portais de dados abertos geoespaciais locais e nacionais – quando disponíveis, eles são ótimas fontes.

Se você não souber por onde começar, você pode pesquisar em listas de portais que podem ser relevantes para você em dataportals.org, Open Data Inception, e outras listas curadas pela comunidade e portais de dados relevantes para a sua localidade.

Site do dataportals.org com um mapa e agrupamentos de portais de dados ao redor do mundo.

Site do dataportals.org com um mapa e agrupamentos de portais de dados ao redor do mundo.

Dados do Brasil

Para dados do Brasil, você pode querer olhar o portal de dados abertos do poder executivo da esfera federal, o dados.gov.br. Veja também os portais de dados abertos de outros poderes e esferas de governo. Listas de alguns desses estão disponíveis em:

Para dados dos institutos de estatíticas, veja o IBGE, IPEA Data e também cada um dos institutos de estatísticas de nível estadual.

Para dados geoespaciais, veja a Infraestrutura Nacional de Dados Espaciais (INDE).

Alguns projetos da comunidade também visam retrabalhar alguns conjuntos de dados importantes e disponibilizá-los em pacotes mais fáceis de se usar. Veja:

Quem convidar

Falando em conjuntos de dados, se você é um servidor público responsável pela publicação de datasets ou puder entrar em contato com alguns e convidá-los, seria uma grande contribuição para o evento. Ninguém está em melhor posição para responder quaisquer perguntas que os participantes possam ter sobre o significado, estrutura e contexto dos dados. Dessa maneira, você pode evitar que as pessoas fiquem paralisadas em obstáculos ao implementar as suas ideias. Isso também será benéfico para o publicador dos dados, já que eles podem receber feedbacks úteis diretamente dos utilizadores dos dados sobre como melhorar a qualidade e a documentação dos dados.

Também é útil ter especialistas de domínio participando no Open Data Day. Envie convites para comunidades que possam estar interessadas em trabalhar nos projetos que você está planejando fazer. Não apenas comunidades de tecnologia, mas também aquelas relacionadas ao campo de trabalho relacionado ao projeto. Por exemplo, se for um projeto relacionado ao meio ambiente, entre em contato com grupos de proteção do meio ambiente. Se for um projeto de um tema relacionado à saúde ou a transportes, faça o mesmo.

Descubra se existem associações de computação na sua localidade, tais como hacker spaces, hacker clubes, etc., que tenham atividades relacionadas a dados abertos ou ao uso de dados. Nesse caso, muitas vezes eles podem estar interessados em pelo menos participar e ajudar a promover o evento em redes sociais, ou até mais. Os participantes desses grupos são geralmente muito qualificados e podem ajudar a alcançar os objetivos dos projetos e a instruir os iniciantes no uso de dados.

Pessoas reunidas no auditório no Ministério da Cultura para o evento do Open Data Day 2017.

O evento Open Data Day Brasília 2017 foi uma colaboração entre o Calango Hacker Club, que é um hacker space local e o Ministério da Cultura. Imagem: arquivo pessoal.

Apoio e infraestrutura

Se você puder conseguir apoio oficial do governo ou instituições acadêmicas, organizações da sociedade civil e empresas, isso pode ser útil de diversas maneiras. Eles podem patrocinar, fornecer ou melhorar a infraestrutura do evento, tal como o uso do espaço, equipamentos ou mesmo com a divulgação. Outra possibilidade de apoio é se candidatar às minibolsas oferecidas a cada ano pela Open Knowledge Foundation e outros parceiros e usar esses recursos.

Outra possibilidade é abrir espaço na programação do evento e estimular os participantes a se comunicarem pela internet com outro evento do Open Data Day em outra cidade. Como os eventos acontecem no mesmo dia, frequentemente isto é possível e vai polinizar as ideias entre eles. Houve algumas experiências positivas com isso na era pré-pandêmica de eventos presenciais. Fazer isso em eventos online seria mais desafiador, mas pode trazer resultados interessantes se planejado com antecedência.

Outros recursos

Em 2018, a Open Knowledge Fountation preparou um Guia do Organizador do Open Data Day (hospedado no Google Docs) que deve ser útil para qualquer pessoa que esteja pensando em organizar o seu próprio evento local.

Para adaptar o evento para o formato online, verifique, se já não o tiver feito, a postagem já mencionada de liçoes aprendidas da conferência csv,conf,v5.

Por fim, dê uma olhada nas experiências dos eventos Open Data Day anteriores. Você pode pegar boas ideias de coisas a se fazer e também dicas de postagem de blog de “lições aprendidas”, tais como a de 2020 e a de 2021.

Uma história dos eventos ODD no Brasil

Como um produto de ter que palestrar sobre o próprio Open Data Day, eu precisei pesquisar um pouco sobre a história dos eventos no Brasil. Um grande desafio em encontrar informações sobre os eventos ODD está no fato de que ele consiste em um número de eventos descentralizados organizados por grupos locais. Frequentemente, apenas um ano após a realização de um evento, ele não tem mais uma página web online. Costumava existir uma wiki, hospedada pela Open Knowledge, onde a maior parte deles estava registrada, mas ela foi desligada. Ainda bem que a Wayback Machine do Web Archive tem uma cópia de algumas destas páginas.

Outra fonte de informações é o dataset do Open Data Day, que possui tudo o que costumava estar mostrado no mapa que está no site. Apesar de que, na maior parte das vezes, esses links sumiram há bastante tempo, algumas vezes o seu conteúdo também pode ser encontrado no Web Archive. Como páginas web tendem a desaparecer depois de três anos ou menos, eu não posso deixar de enfatizar a importância do Internet Archive para qualquer pessoa que esteja pesquisando na web por evidências de eventos passados.

Primeiros anos

O ODD estreou mundialmente em 2010, com muitas cidades participantes em todo o mundo. Registros desses primeiros eventos são muito difíceis de se encontrar na internet de hoje. Em uma versão anterior deste texto eu havia mencionado somente uma referência que eu havia encontrado sobre o ODD 2010, mas nenhuma no Brasil.

Depois de ter publicado originalmente o texto, o David Eaves, um dos fundadores da ideia de se criar o Open Data Day, entrou em contato comigo para dizer que o Brasil esteve envolvido na organização de eventos do ODD desde o início. Ele me direcionou a uma postagem em seu blog onde ele propunha criar um hackathon de dados abertos internacional e descentralizado. Nele, ele detalhou como a Daniela Silva e o Pedro Markun, do Transparência Hacker, foram parte do grupo de pessoas que havia inicialmente proposto criar um evento assim.

Procurando por algumas referências lá, eu pude encontrar uma página em uma velha wiki desativada, copiada pelo Web Archive, que contém referências para cada um dos eventos do Open Data Day 2010. E nela já se pode ver 7 eventos no Brasil. Curiosamente, eu mesmo estive presente no ODD Brasília 2010, mas não me lembrava disso até ver o meu próprio nome na lista de participantes!

Infelizmente, eu não pude encontrar referências para o ODD 2011 e 2012 no Brasil. Se você tiver uma, por favor me envie o link!

Depois disso, os primeiros registros que eu pude encontrar do evento no Brasil foram em 2013: em São Paulo, na Casa de Cultura Digital, em Brasília, no Instituto de Fiscalização e Controle.

Em 2014, diferentes cidades representaram o Open Data Day no Brasil: Rio de Janeiro, organizado por um grupo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Porto Alegre, organizado pelo hacker space Mate Hackers, e Vitória.

2015 viu o número de eventos no Brasil quase se triplicar:

  • Brasília, organizado pelo Calango Hacker Club
    • Marcus Chevitarese da Câmara dos Deputados falou sobre o seu projeto dados abertos 2.0
    • Eu mostrei três conjuntos de dados do Ministério do Planejamento: orçamento federal, compras e licitações e transferências voluntárias da União e, ainda, a estreia dos planos de dados abertos de organizações públicas
    • Wille Marcel mostrou algumas camadas diferentes do OpenStreetMap para motoristas e ciclistas
  • Porto Alegre, organizado pelo Mate Hackers, um hacker space local, a Casa de Cultura Digital de Porto Alegre e o Poa Digital (há até um resumo em vídeo, no Youtube)
  • São Carlos, com mesas redondas sobre o Sigalei
  • São Paulo, um hackathon com projetos sobre a crise hídrica na cidade e também para escrever pedidos de acesso à informação para o governo local
  • Curitiba, organizado pelo Code Across Brazil (que suponho que mais tarde tenha se tornado o Code for Curitiba)
  • Rio de Janeiro, organizado pelo Centro de Referência em Inteligência Empresarial (CRIE)
  • Teresina, com um hackathon de transparência no Teresina Hacker Clube
  • Vila Velha, no estado do Espírito Santo

Participantes trabalham em seus notebooks ao redor de uma mesa durante o ODD Porto Alegre 2015.

Participantes trabalham em seus notebooks ao redor de uma mesa durante o ODD Porto Alegre 2015. Imagem: resumo em vídeo no YouTube.

Em 2016, houve eventos em Brasília, Campina Grande, João Pessoa, Maceió e Vitória, como descrito nesta postagem de blog da Open Knowledge Brasil. Não incluídos na postagem estão o evento de Porto Alegre, organizado pelo POA Digital, o evento do Rio de Janeiro, organizado pelo capítulo local do Open Data Institute, e Teresina, novamente organizado pelo Teresina Hacker Clube.

2017

Em 2017, o evento de Brasília foi organizado pelo Calango Hacker Club e pelo Ministério da Cultura. Houve atividades relacionadas à Operação Serenata de Amor, uma iniciativa para rastrear despesas de deputados federais, Ushahidi, Open Street Map e dojos de programação.

Participantes assistem a uma palestra do Faísca do Calango Hacker Clube.

Participantes assistem a uma palestra do Faísca do Calango Hacker Clube. Foto: arquivo pessoal.

Também houve eventos em Curitiba, Maceió e dois em São Paulo. Um deles, organizado pela Open Knowledge Brasil, teve atividades para desenvolver o Querido Diário, um projeto que visa eventualmente ser capaz de raspar todos os diários oficiais de estados e municípios brasileiros. O outro foi organizado pelo PoliGNU, PoliGen, MariaLab e Transparência Hacker e usou dados abertos para discutir a participação das mulheres em políticas públicas.

Em Guarulhos, no estado de São Paulo, houve atividade promovidas pelo Ônibus Hacker.

2018

O ano de 2018 recebeu o maior número de eventos do Open Data Day até então.

Em Brasília, novamente nós nos encontramos no Ministério da Cultura. Primeiro, nós pretendíamos fazer algumas atividades práticas de programação e tratamento de dados, mas acabamos fazendo uma mesa redonda de conversas onde nós contamos a história de como iniciamos a política de dados abertos no Brasil, começando em 2010, e as pessoas puderam fazer perguntas sobre ela e sobre dados abertos em geral. A gravação do evento em vídeo está disponível no Youtube.

Da esquerda, Augusto Herrmann, Otávio Carneiro e Christian Moryah, membros do Calango Hacker Clube, introduzem a história de como os dados abertos começaram no Brasil.

Da esquerda, Augusto Herrmann, Otávio Carneiro and Christian Moryah, members of the Calango Hacker Club introduzem a história de como os dados abertos começaram no Brasil. Imagem: Otávio Carneiro.

Um relato escrito de um capítulo importante dessa história, a construção colaborativa com a sociedade civil do portal de dados abertos do governo federal usando software livre, está disponível no dados.gov.br. Se quiser saber mais sobre o assunto, outra parte dessa história, mais focada no Comitê Gestor da INDA, também está disponível neste blog.

O Open Data Day em Maceió começou um dia antes, na sexta-feira, dia 2 de março, e continuou até sábado. Houve mesas redondas de conversas com utilizadores e publicadores de dados, uma exploração dos dados do portal de dados abertos do estado de Alagoas e um hackathon.

Porto Alegre teve uma série de palestras e mesas redondas com servidores públicos, auditores de tribunais de contas, jornalistas de dados e outros ativistas. Um hackathon para ferramentas cívicas para as eleições de 2018 também foi planejado lá.

Em São Paulo, a Artigo 19, uma organização da sociedade civil dedicada a proteger os direitos humanos, organizou um evento privado do ODD no MobiLab, um laboratório de inovação aberta na prefeitura local. As atividades foram centradas em dados de pesquisa sobre feminicídios e em como usar esses dados.

O Raul Hacker Clube, um hacker space local, foi o anfitrião de um dos ODD em Salvador. Houve uma oficina de raspagem de dados do ativista Fernando Masanori e uma apresentação sobre Salvador no Índice de Dados Abertos das cidades brasileiras. O outro evento do ODD em Salvador parece ter sido organizado por um grupo da Universidade Federal da Bahia (UFBA), mas eu não consegui encontrar mais informações sobre ele.

Além desses, também houve eventos nas seguintes cidades:

  • Curitiba (Movimenta Curitiba)
  • Fortaleza (na Universidade Federal do Ceará)
  • Natal (LabGov – UFRN)
  • Rio de Janeiro (Rio Criativo)
  • São Leopoldo, Rio Grande do Sul (universidade Unisinos)

Relatórios de todos os eventos do Open Data Day ao redor do mundo que receberam minibolsas podem ser encontrados aqui.

2019

Em 2019, pela primeira vez, o Open Data Day no Brasil foi dividido entre datas diferentes. O Carnaval é um feriado nacional de grande relevância, no qual a maior parte das pessoas está indisponível e os estabelecimentos fechados, por isso há muitos obstáculos para se organizar um evento como esse. Por causa disso, alguns eventos locais decidiram acontecer mais cedo (no dia 9 de março), ao passo em que outros foram para mais tarde (23 de março). Para a primeira rodada de eventos, tivemos o ODD em quatro cidades brasileiras.

Aconteceram atividades de mapeamento patrocinadas por um dos temas das minibolsas tanto em Curitiba quanto em São Paulo. O último foi um esforço organizado pelo Wiki Movimento Brasil para coletar dados estruturados sobre barragens de mineração, depois do desastre da barragem da Vale em Brumadinho em 2019, e armazená-los depois na WikiData. Um mapa dessas barragens resultante desse esforço de mapeamento pode ser visto aqui. O primeiro foi o primeiro Map-a-thon de Acessibilidade Urbana em Curitiba, onde 39 ocorrências de problemas de acessibilidade na cidade foram mapeados por equipes de voluntários e disponibilizadas online em um mapa. Além disso, o ODD Curitiba teve sessões sobre ciência aberta, o rastreamento de fluxos de dinheiro público e transporte público.

O ODD Porto Alegre teve uma série de palestras de especialistas no rastreamento de despesas públicas usando dados abertos, onde cada um mostrou os seus respectivos projetos. Houve também palestas sobre séries temporais de dados abertos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, dados abertos para cidades inteligentes, uso de tecnologia blockchain para a transparência e o uso de dados abertos por jornalistas de dados.

Participantes do ODD Porto Alegre 2019 na Unisinos ouvem uma palestra.

Participantes do ODD Porto Alegre 2019 na Unisinos ouvem uma palestra. Imagem do blog da Taís Seibt no Medium.

Em Recife, o evento teve palestras sobre os portais de dados abertos locais, experiência de pesquisa em dados abertos do estado de Pernambuco e projetos locais de tecnologias cívicas.

O grupo Py013 de Santos, no estado de São Paulo, fez algumas análises de dados em 13 de março sobre o programa ProUni, que oferece bolsas e acesso às universidades, e as despesas públicas do município de Santos, em dados disponibilizados no portal da transparência do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP).

Na segunda rodada de eventos, em 23 de março, mais algumas cidades se juntaram ao Open Data Day brasileiro: Fortaleza e Natal. O ODD Fortaleza incluiu palestras, oficinas, webinars e debates. Muitas das oficinas ensinaram aos participantes como usar a linguagem R: introdução, raspagem da web, visualização de dados e mais. Um dos resultados práticos foi extrair dados sobre as despesas feitas por deputados da assembleia estadual. As palestras, debates e webinars discutiram a transparência pública, acesso à informação e tecnologias cívicas. No mesmo dia, também houve um evento do ODD em Natal.

2020

Em 2020 foi estabelecido um novo récorde do o Open Data Day no Brasil, com o mapa no site do ODD registrando 15 eventos na época. A maior parte deles aconteceu nos dias 6 e 7 de março, antes da pandemia do coronavírus ter atingido o Brasil. Outros foram alguns dias mais tarde e tiveram que ir para o online para evitar o espalhamento da doença.

Mapa dos eventos do open data day em 2020, mostrando 15 marcadores no Brasil.

Mapa dos eventos do open data day em 2020, mostrando 15 marcadores no Brasil. Imagem: site do Open Data Day.

No ODD São Paulo, as palestras foram sobre os dados abertos de eleições e da atividade parlamentar. Algumas das atividades práticas envolveram explorar a API do CEPESP da Fundação Getúlio Vargas com dados curados sobre as eleições no Brasil, tais como a quantidade de bens declarados por candidatos nas eleições de 2018.

Além do evento já mencionado do ODD nas dependências do Arquivo Nacional na sexta-feira, também houve um outro evento do ODD no Rio de Janeiro organizado pelo grupo Cerveja com Dados, no sábado. As palestras exploraram diversos temas, tais como dados abertos sobre o ambiente local, tentar prever a evasão escolar com dados abertos escolares e bicicletas compartilhadas.

Participantes assistem a uma palestra no evento Open Data Day Rio 2020 do Cerveja com Dados.

Participantes assistem a uma palestra no evento Open Data Day Rio 2020 do Cerveja com Dados. Imagem do relatório da Open Knowledge Brasil.

O Rio não foi a única cidade brasileira com dois eventos do ODD em 2020. Recife recebeu dois eventos também. Um deles foi organizado pelo IP-rec e o grupo Women in Data Science Recife, com apoio da Neurolake, e aconteceu na manhã de 7 de março. Houve palestras sobre os aplicativos cívicos Fogo Cruzado e Aetrapp e um debate entre uma jornalista de dados e um servidor público sobre o uso de dados abertos sobre a violência contra a mulher. À tarde, o segundo evento foi organizado por Pernambuco Transparente e apoiado pela Livraria Jaqueira. Teve palestras sobre o uso de plataformas de dados e a Lei de Acesso à Informação, cidades inteligentes, igualitárias e sustentáveis, o rastreamento de despesas públicas, mapeamento aberto e jornalismo de dados. Você pode encontrar um relato detalhado de ambos os eventos na postagem do blog Dados Abertos Pernambuco, cujo link está referenciado acima.

Natal teve um evento extensivo de dois dias, repleto de palestras e até mesmo minicursos:

No total, houve quatorze palestras; uma videoconferência diretamente de Paris; dois painéis (um sobre tecnologias de reconhecimento facial; e outro sobre dados abertos, ética e democracia); um minicurso sobre a indexação de dados na web com Python; e uma oficina sobre a criação de gráficos com R.

O Open Data Day de Manaus teve uma série de palestras sobre muitos temas: transformação digital, a nova Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), inteligência artificial e os ecossistemas e modelos de negócio relacionados a dados abertos.

Participantes veem o último slide de uma apresentação da CGU no evento Open Data Day Manaus 2020.

Participantes veem o último slide de uma apresentação da CGU no evento Open Data Day Manaus 2020. Imagem do relatório da Open Knowledge Brasil.

A LGPD também foi um tema dos debates no ODD Belo Horizonte, bem como dados do judiciário, segurança da informação e o projeto Brasil em Dados.

Em Curitiba, o grupo Code for Curitiba organizou uma maratona de inovação cívica sobre o tema “Dados para o Desenvolvimento Igualitário”. As equipes participantes programaram para dois projetos:

  • Ônibus.IO, um projeto comunitário para compartilhar dados sobre o sistema público de ônibus de Curitiba; e
  • DS156, uma iniciativa que visa usar os dados abertos do sistema de call center de serviços da cidade (que responde pelo número de telefone 156) e traduzi-los em orientações acionáveis para servidores públicos.

Em Campinas, um datathon sobre o uso de dados abertos sobre os municípios brasileiros foi patrocinado pela Dextra.

Em Santos, o grupo Py013 organizou um evento do ODD com apoio da 4Linux, da Alura e da Casa do Código, no qual os participantes fizeram algumas análises exploratórias de dados usando Python e Jupyter Notebooks.

O evento de Porto Alegre desta vez lidou com dados do meio ambiente e discutiu o projeto da mina Guaíba e o seu impacto na região metropolitana de Porto Alegre.

Um dos eventos mais tardios que foi realizado online devido à pandemia do novo coronavírus foi em Fortaleza, em 11 de abril. Nele houve oficinas práticas que exploraram dados abertos sobre a doença Covid-19 e construíram visualizações.

Outro foi em Salvador, organizado pela Universidade Federal da Bahia – UFBA. Ele havia sido previsto originalmente para acontecer em 7 de março, mas foi adiado inicialmente por uma semana por causa das fortes chuvas na cidade. Porém, então, todas as atividades presenciais foram suspensas na véspera pela universidade devido à pandemia. Assim, ele foi reagendado para acontecer completamente online no dia 10 de junho. Houve muitas palestras, oficinas e até mesmo shows artísticos. Algumas palestras estavam disponíveis nos idiomas inglês e português. Os temas foram dados geoespaciais, mapeamentos colaborativos e a iniciativa GeoCombate Covid 19 BA para combater o coronavírus.

2021

2021 foi o maior ano até hoje em termos de eventos do ODD no Brasil, com um total de 17 eventos. A Open Knowledge Brasil publicou um resumo dos eventos em uma postagem de blog, mas vamos dar uma olhada em cada um deles aqui também.

Mapa dos eventos do open data day em 2021, mostrando 15 marcações no Brasil.

Mapa dos eventos do open data day em 2021, mostrando 15 marcações no Brasil. Imagem: site do Open Data Day.

Salvador

Mais uma vez Salvador teve no dia 6 de março um evento do ODD relacionado a dados espaciais e mapeamento comunitário, organizado pela UFBA. Desta vez foi um evento ganhador de minibolsa. Além do Open Street Map, os dados relacionados à doença Covid-19 receberam destaque:

Agentes comunitários de saúde e profissionais de saúde da família têm um papel fundamental para essas pessoas, já que são eles quem visitam o território, os lares, reconhecendo os problemas na sua origem. Para realizar o seu trabalho, eles frequentemente criam mapas esquemáticos no papel e não usam mapas existentes. No OpenStreetMap, a maioria dessas áreas precárias ainda não têm suas construções mapeadas, e esta é uma camada que pode ajudar muito no trabalho desses agentes. É por isso que a YouthMappers UFBA tem apoiado o grupo GeoCombate COVID-19 BA e buscado mapear as áreas mais precárias da cidade de Salvador.

O evento recebeu uma minibolsa e a sua gravação em vídeo está disponível online.

Feira de Santana

O Open Data Feira foi um evento online, mas focado nos dados abertos da cidade de Feira de Santana, Bahia. Como relatado:

Pensando na realidade local, nós organizamos duas mesas redondas: a primeira sobre transparência enquanto política pública e a segunda sobre ciência aberta. Na primeira, discutimos o papel da transparência na criação de políticas públicas e o seu impacto na participação popular. Participaram membros da imprensa, órgãos públicos e ativistas. Um vereador também participou do painel. Na segunda, falamos sobre ciência aberta, um tema que tem se tornado ainda mais relevante durante a pandemia do novo coronavírus. Nós contamos com a presença de pesquisadores da região e de instituições renomadas, como a FIOCRUZ.

Além das meas redondas, também organizamos um hackathon para analisar os dados da cidade, visando encorajar a exploração dos dados que o projeto dados abertos de Feira tem coletado.

Assista a gravação no YouTube.

Rio de Janeiro

Em 2021 o Arquivo Nacional novamente foi anfitrião do evento Open Data Day Rio de Janeiro. Teve palestras de John Sheridan, do Arquivo Nacional do Reino Unido, e de Caroline Burle, do NIC.br, Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR, o registrador de nomes de domínio no Brasil.

O Arquivo Nacional do Reino Unido teve um papel chave na criação da licença de dados abertos (Open Government Licence) do Reino Unido. Sheridan falou sobre como é esperado que os dados abertos tenham utilidade além daquela que foi inicialmente pensada ao coletar e publicar esses dados.

Caroline Burle, do NIC.br, apresenta o ciclo de vida dos dados na web.

Caroline Burle, do NIC.br, apresenta o ciclo de vida dos dados na web. Imagem: gravação no YouTube relatório do evento.

Caroline Burle falou sobre as boas práticas de dados na web, um documento do Consórcio da World Wide Web (W3C) que serve como framework de como disponibilizar dados na web da melhor maneira.

A gravação de todo o evento pode ser assistida no YouTube.

Porto Alegre

A cidade de Porto Alegre teve um evento online organizado pelas jornalistas Marília Gehrke e Taís Seibt da Afonte Jornalismo de Dados. O tema principal foi a fiscalização das despesas públicas. Muitas organizações da sociedade civil participaram, tais como a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Fiquem Sabendo, um centro de jornalismo de dados que usa a Lei de Acesso à Informação para descobrir questões cívicas, Brasil.io uma iniciativa para espelhar e facilitar o reúso dos dados abertos, e Transparência Brasil. O Tesouro Nacional também esteve lá para apresentar o portal de dados Tesouro Transparente.

Também houve uma apresentação da Open Contracting Partnership, que inclui um padrão de dados for sobre contratos governamentais.

Um dos painéis de discussões no evento online ODD Porto Alegre 2021.

Um dos painéis de discussões no evento online ODD Porto Alegre 2021. Imagem: gravação no YouTube / relatório do evento.

Do relatório:

Os participantes salientaram a importância de demonstrar ferramentas que ajudam na fiscalização pública. O Brasil tem um dos maiores números de mortes devido à Covid-19 e é fundamental compreender as bases de dados e contratos públicos para monitorar as atitudes para lidar com a pandemia. Por exemplo, os painelistas apresentaram informações sobre a verificação dos valores financeiros despendidos pelo governo federal em cidades e estados.

Também houve duas oficinas no evento. Juliana Rodrigues (da Unisinos) explicou conceitos sobre o orçamento público, algo que frequentemente deixa perplexa qualquer pessoa que tenta se debruçar sobre essa categoria de dados pela primeira vez. Na outra oficina, Felipe Soares (da UFRGS) mostrou como usar análise de redes para compreender a desinformação envolvendo políticos e outros agentes públicos.

A gravação do evento está no YouTube:

São João del Rei

A Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ), no estado de Minas Gerais, e a sua iniciativa UAIGeo organizaram um evento do ODD online em 2021 focado em dados geoespaciais, ferramentas de mapeamento em software livre e esforços colaborativos tais como o OpenStreetMap e YouthMappers.

O evento também recebeu uma minibolsa e o relatório está disponível para quem desejar mais informações.

Belo Horizonte

O laboratório de inovação do governo do estado de Minas Gerais (LAB.mg) promoveu um evento online.

O objetivo do evento é discutir a importância da promoção de dados abertos no governo, trazendo experiências de sucesso e boas práticas na promoção do tema dentro do setor público.

Aparentemente ele aconteceu no Instagram e não há outros registros ou detalhes sobre ele disponíveis.

Santos

O grupo Py013 da cidade de Santos, São Paulo fez algumas análises de dados sobre as vacinações contra as doenças sarampo, rubéola e cachumba, divulgados pelo Observatório das Vacinas Os dados e o código estão disponíveis em um repositório no Github.

Oficina de dados de vacinação, pelo Py013, mostrando um caderno Jupyter com código.

Oficina de dados de vacinação, pelo Py013. Imagem: gravação no YouTube.

Brasília

Mário Sérgio, ex-coordenador de inovação cívica na Open Knowledge Brasil, organizou um encontro online no Discord. Um dos temas discutidos com Maria Vitória Ramos, da agência de notícias Fiquem Sabendo, foi a dificuldade em acessar dados abertos dos municípios brasileiros.

Curitiba

Code for Curitiba mais uma vez organizou um evento do Open Data Day com quase 8 horas de palestras sobre diversos assuntos relacionados aos dados abertos. A gravação de todo o evento está disponível no YouTube.

Recife

As rede de pessoas embaixadoras da inovação cívica, da Open Knowledge Brasil, e o grupo Women in Data Science Recife organizaram o evento de Recife. Houve uma oficina sobre o uso de dados dos diários oficiais e o Querido Diário e como fazer análises com eles. A gravação está no YouTube.

Online (nenhuma cidade em particular)

Apesar do fato de que muitos eventos de cidades aconteceram online em 2021 devido à continuidade da situação da Covid, os seguintes eventos também ocorreram online no Brasil, mas não tiveram associação com nenhuma cidade em particular.

Gênero e Número organizou um evento brasileiro do ODD sobre as mudanças no mercado de trabalho para as mulheres durante a pandemia.

Durante o evento, nós salientamos que todos os dados com os quais nós trabalhamos são organizados, estruturados e disponibilizados no nosso site. A seção Dados Abertos é uma das nossas páginas mais visitadas e também contém todos os dados que usamos e nos quais baseamos todas as nossas histórias. Nós também fornecemos links para todas as bases de dados exploradas durante o evento (algumas do principal fornecedor de dados do Brasil, IBGE) e mostramos alguns dos scripts R utilizados para minerar, estruturar e analisar os números.

Esse evento também foi recebedor de uma minibolsa. Você pode assistir a sua gravação em vídeo.

Outro evento do ODD online e ganhador de minibolsa foi o II Festival Afroempreendedor. Do relatório:

Nós realizamos um evento de três dias sobre vários aspectos da população negra. No terceiro dia nós focamos nos dados abertos. Falamos do básico, sobre por que estamos na era dos dados e como isso afeta as vidas das pessoas negras especificamente.

Open Mapping and Successful BSSs uniu pessoas para falar dos esforços de mapeamento colaborativo sobre sistemas de compartilhamento de bicicletas (em inglês, bike sharing systems, BSS). Alguns resultados do evento que constam no relatório foram:

a importância da padronização de dados abertos para melhorar os sistemas de mobilidade na América Latina e a importância dos mapas existentes de compartilhamento de bicicletas; saber mais sobre o GBFS, o padrão de dados abertos para micromobilidade compartilhada, e como essa ferramenta será usada; oportunidades de micromobilidade e desafios durante e após a pandemia de Covid-19.

O evento foi patrocinado por uma minibolsa e o vídeo está disponível no YouTube.

O programa Embaixadoras da Open Knowledge Brasil realizou uma live no dia 9 de março sobre os desafios de se abrirem dados e ao mesmo tempo protegerem os dados pessoais. O vídeo está no YouTube.

O cartaz digital para o webinar de dados abertos e proteção de dados.

O cartaz digital para o webinar de dados abertos e proteção de dados. Imagem: anúncio do evento.

Houve uma oficina sobre como usar as estatísticas oficiais (PNAD) para monitorar o desemprego de jovens, usando R, organizado pela Youth Voices Brasil.

Base dos Dados Mais, uma iniciativa da sociedade civil que pega dados abertos de diversas fontes oficiais e os torna mais fáceis de se cruzarem na Google Cloud Platform, realizou um datathon com o tema desenvolvimento igualitário. Você pode ler um relatório para ver o que cada uma das equipes participantes trouxe à mesa. As equipes vencedoras foram UFRJ Analytica, que analisou como o acesso à educação de qualidade difere entre diferentes regiões do Brasil, e Felipe Macedo Dias, que investigou se existe ou não uma correlação nos municípios brasileiros entre a inflação e o montante total recebido na forma do Auxílio Emergencial. Os códigos das análises estão no Github.

A Data-Pop Alliance fez um evento online “para compartilhar os resultados de uma análise que aproveitou fontes de dados tradicionais e não tradicionais para estimar a probabilidade condicional de registros de violência doméstica no México, São Paulo e Bogotá”.

2022

Para 2022, até o momento de escrita deste texto, no site do Open Data Day há dois eventos no mapa do Brasil – o do grupo Py013 em Santos e o do grupo UAIGeo da UFSJ em São João del Rei.

Você está pensando em organizar o seu próprio evento do ODD? Clique o botão e preencha o formulário (Google Docs) para adicioná-lo ao mapa!

Resultados

Como em cada ano anterior, 2021 estabeleceu um novo récorde quanto ao número de eventos do Open Data Day que aconteceram naquele ano no Brasil. É incrível ver a comunidade florescer com tantos eventos ocorrendo em toda parte e tantas pessoas interessadas nos dados abertos.

2021 também marcou como a primeira vez que esses eventos aconteceram no Brasil completamente online, sem eventos presenciais.

Uma tendência perceptível é que quase todos esses eventos usaram ferramentas online e plataformas das empresas “big tech” e empresas com práticas não tão favoráveis aos usuários quanto à proteção de dados. Isso é bastante semelhante ao que ocorreu com escolas, universidades, escritórios, etc., que repentinamente tiveram que mudar para a modalidade online em 2020, mas não tiveram o tempo para revisar cuidadosamente as suas opções – para o detrimento da privacidade de seus usuários, alunos e colaboradores. Dois anos depois, não há mais desculpas para não se usarem ferramentas online melhores, livres e respeitadoras da privacidade.

Algo que eu gostaria de ver em 2022 é pelo menos alguns eventos usarem ferramentas em software livre – que estão aí para serem usadas, mas a maior parte das pessoas não sabe da sua existência, ou não se importa. É por isso que eu me adiantei para tentar incluir algumas referências a elas no guia de organização de eventos do ODD em 2022.

Considerações finais

Já houve tantos eventos do Open Data Day no Brasil, em todos esses anos, que é bem possível, até provável, que eu tenha deixado de fora um ou outro. Você sabe de um ou participou de um evento que eu deixei de fora? Nesse caso, me mande um e-mail com alguma evidência, preferencialmente com links, e eu o acrescentarei a esta narrativa e, é claro, te darei o crédito.

Atualizações

02/03/2022: este artigo foi atualizado em 2/3/2022 com informações que me foram trazidas pelo David Eaves, um dos fundadores do Open Data Day, para incluir o fato de que o evento não somente esteve presente no Brasil desde o seu início em 2010, como também brasileiros (Daniela Silva e Pedro Markun) estiveram envolvidos na sua concepção. Eu mesmo havia participado do evento em Brasília em 2010 e me esquecido completamente disso!

Além disso, uma referência à postagem de 2022 do blog da OKBR, com orientações sobre como organizar um evento, foi acrescentada.