É 2020. Por que você ainda não está abrindo dados? Bingo!

imagem: sydney Rae / Unsplash

Quando eu comecei a defender a ideia e construir dados abertos onze anos atrás, o mundo era um lugar muito diferente. O Brasil não tinha nem um portal de dados abertos, nem uma política para isso. Até os países que foram pioneiros na agenda dos dados abertos estavam apenas começando.

Agora podemos ver uma paisagem muito diferente. A maioria dos países Now we can see a very different landscape. Most nation states have se uniram à agenda dos dados abertos e disponibilizam um portal único onde as pessoas podem baixar uma miríade de dados sobre quase qualquer assunto, incluindo os mais importantes. Muitos governos locais o fazem, também.

Pode parecer que os gestores do setor público, deste então, em sua maior parte, foram convencidos das motivações para abrir os dados, sejam elas o crescimento econômico, a criação de empregos, a economia de recursos públicos e eficiência, a melhoria de serviços públicos e privados, uma forma mais inteligente de abordar os desafios sociais, melhorar a transparência e responsabilização no setor governamental, ou ainda efeitos positivos não previstos.

Diagrama sobre os benefícios dos dados abertos, do Portal Europeu de Dados

Diagrama sobre os benefícios dos dados abertos, do Portal Europeu de Dados.

Entretanto, como pesquisas como o Open Data Index, Open Data Barometer e Open Data Inventory têm mostrado, ainda há muitas lacunas em dados importantes e potencialmente úteis que deveriam estar disponíveis, mas não estão. Ainda estamos longe de viver em uma utopia dos dados abertos. Para mais sobre essa discussão, por favor veja a minha postagem anterior: “Sobre o Estado dos Dados Abertos: eles enfrentam uma crise de identidade?”.

A realidade é que os dados abertos não decolaram de verdade com os políticos. Raramente um reconhece a existência da agenda, quanto mais defini-la como uma prioridade política para o desenvolvimento econômico. Isso é a despeito do fato que, quanto mais dados abertos estiverem disponíveis, mais eles possibilitam ao setor privado alavancar aplicações emergentes de inteligência artificial e inovar em produtos e serviços.

Todavia, para pessoas que trabalham no setor público e para pessoas que frequentemente tentam obter dados a partir de governos usando leis de acesso à informação, acontece muito dos dados serem negados ou dificultados por gestores, usando as mesmas velhas desculpas que temos ouvido durante muitos anos.

O Bingo dos Dados Abertos

Um conjunto de números que você fica esperando cada um ser anunciado. Bingo! Essa é a provável inspiração para o nome do Open Data Bingo original. É apenas uma tabela das desculpas mais comuns que as pessoas dão para não abrir os dados. Então, ele foi melhorado por algumas pessoas, entre elas Christopher Gutteridge (Universidade de Southampton) e Alexander Dutton (Universidade de Oxford), colaborando em um documento do Google Docs. Foi então que o grupo italiano Spaghetti Open Data, e Francesco Minazzi em particular, adaptaram o Bingo ao cenário italiano dos dados abertos e produziram um site: “Il bingo delle scuse”.

O Open Data Bingo italiano

O Open Data Bingo italiano

Algum tempo depois, a ativista dos dados abertos e atual Diretora do capítulo da Open Knowledge Foundation no Brasil, a Fernanda Campagnucci, traduziu e adaptou parte do conteúdo à realidade brasileira, trazendo da sua experiência em abrir dados na administração municipal de São Paulo. Ela subiu um site com essa versão. Ela, então, mencionou isso quando foi convidada a um episódio do Podcast Pizza de Dados, e foi assim que eu ouvi dizer pela primeira vez do open data bingo.

Ao considerar os argumentos na adaptação desse conteúdo para tantos países e culturas diferentes, é notável o qual semelhantes são entre eles as barreiras à abertura de dados.

bingo.dadosabertos.social

Então eu terminei a tradução e adaptação ao contexto brasileiro do resto das questões que ainda estavam em italiano, e coloquei em um domínio com nome legal. Assim, surgiu o bingo.dadosabertos.social. Espero que isso ajude a comunidade brasileira de dados abertos a argumentar com mais eficácia para obter dados das administrações públicas. Vamos tentar, então, preencher essas lacunas de dados importantes que deveriam, mas ainda não estão abertos!

Assim como esse projeto não começou comigo, ele não deveria parar por aqui. Ele usa uma licença completamente aberta e está disponível no Github. Então faça o seu fork, crie a sua versão e me envie um pull request se você tem um argumento útil contra as desculpas para não abrir dados. Se não tem familiaridade com o Github, deixe os seus comentários no fórum dadosabertos.social. Se você conhece o contexto das leis brasileiras, instituições e o panorama de dados, melhor ainda! Suas contribuições serão muito bem vindas.